Artigo
Como a mentalidade e a cultura Data Driven formam líderes de mercado
Paulo Pereira
junho 29, 2022
2 (dois) exemplos de empresas data based management
Selecionamos, no livro Estudos de Casos Gestão do Amanhã (01), de Sandro Magaldi e José Salibi Neto, duas empresas que tem gestão baseada em dados.
A área de dados ganha importância na Magalu continuamente. Em 2011, eram duas pessoas trabalhando nesse departamento; em 2019, já eram 40 profissionais fazendo isso, divididos em oito times (Search, CRM, Recommend Actions, Exploration, Intelligence, DS Tools, Data Engineering e Business Intelligence). As posições principais das equipes são: analista de dados, cientista de dados, engenheiro de dados, engenheiro de machine learning, desenvolvedor e especialista em base de dados.
Como o Diretor de Tecnologia da Magalu, Daniel Cassiano, explica em palestras disponíveis na internet, a missão da área “é democratizar o acesso aos dados dentro da empresa, para que resolvam problemas de negócio com inteligência e dados”.
A estrutura de dados já foi complexa, mas, hoje, alcançou maturidade e simplicidade. Todas as aplicações de dados são centralizadas em um data lake, com a presença de camadas de Machine Learning em escalas. E mais de 4.000 colaboradores da empresa têm acesso irrestrito a isso. “Mudou a cultura da empresa; antes a área precisava solicitar acesso; agora, não, o dado é self-service”, como comenta Daniel.
Além de escalar a cultura data-driven por toda a organização, a equipe de dados tem um impacto muito visível em dois pontos nevrálgicos do negócio: mecanismo de recomendação e precificação.
As plataformas de dados da Magalu se baseiam em soluções open source disponíveis no mercado, que foram customizadas. E há algumas premissas seguidas pela equipe, como:
- simples é melhor do que complexo;
- acessível é melhor que lindo tecnicamente;
- acurácia é tudo;
- documentação e didática fazem diferença; e
- governança gera confiança.
Para muitos analistas, empresas de e-commerce como ML são, por definição, “data companies”. A crescente importância dos dados na operação do ML pode ser observada por três lentes.
- A primeira lente é a da AWS, a subsidiária da Amazon que é provedora de serviços de nuvem. Um artigo da Business Wire nos permitiu entender não só a importância dos dados na operação do Mercado Livre, como a importância do cliente Mercado Livre para a AWS. O texto, de novembro de 2020, diz que a AWS foi selecionada pelo Mercado Livre como fornecedora de nuvem preferencial para transformar a companhia numa organização data-driven e para melhorar a experiência dos usuários, acelerar o lançamento de novos serviços e dar apoio à sua expansão regional – não só em e-commerce, mas também do Mercado Pago e Mercado Crédito.
Conforme a matéria, o Mercado Livre está construindo seu próprio Data Lake, o MeliLake, na nuvem da Amazon para depositar os mais de 25 terabytes de dados de transações por dia vindos de vendas, pagamentos, logística/entregas, e torná-los disponíveis às equipes em toda a organização. Entre outros serviços da AWS, o Mercado Livre usará o Amazon Rekognition (serviço de análise de vídeo e imagens) como parte de seu processo de verificação de identidade, para minimizar fraudes, e o Amazon Translate, para automaticamente traduzir as informações do português para o espanhol, e vice versa. O diretor de vendas da AWS para a América Latina, Jaime Vallés, declara que o trabalho preditivo para apoiar o crescimento da empresa como uma das grandes contribuições da nuvem da AWS para o Mercado Livre.
- A segunda lente é a do Google Cloud, um dos grandes concorrentes da AWS, que dá igual importância a esse cliente. Em janeiro de 2021, o Google Cloud foi escolhido para dar suporte ao sistema de missão crítica SAP do Mercado Livre – os principais desafios, conforme declaração do Meli, são adaptar sua infraestrutura ao crescimento exponencial do volume de informações e transações da plataforma, implantar o novo sistema SAP (o SAP S/4HANA) e fazer tudo isso sem interromper a operação existente. A ideia é a migração total dos dados da plataforma SAP para Google Cloud, como noticiou o Google Discovery. Rodrigo Ponce, gerente geral do Google Cloud para Argentina e Uruguai, afirmou: “Isso fortalece ainda mais a nossa aliança com o Mercado Livre, que temos acompanhado em projetos de dados, analytics, inteligência artificial, infraestrutura multicloud e nossa plataforma colaborativa”.
- A terceira lente é a do próprio Mercado Livre. Sebastian Barrios, vice-presidente de tecnologia da empresa, diz que os funcionários da empresa já usam dados nas suas tarefas diárias para tomar decisões melhores e para se manter à frente das tendências de comportamento do cliente. Assim, o Mercado Livre precisa ser um ávido usuário de cloud computing, de modo que seja fácil para os funcionários usarem os dados. O Mercado Livre é multicloud; costuma “chavear” suas nuvens entre AWS e Google, para ter um backup, caso uma delas tenha problema. Por trás do ritmo de 23 compras por segundo que o Mercado Livre vem vivendo, está sua própria plataforma, feita em casa, chamada de Fury, que é suporte de 5.000 desenvolvedores, 8.000 aplicações rodando simultaneamente em mais de 50.000 instâncias de servidores virtuais, apps com mais de 8.000 deploys (implantações) por dia e 2,2 milhões de solicitações por segundo. A equipe de tecnologia do Meli já era gigante no início de 2021 – quase 6 mil pessoas – e o plano era contratar mais 4 mil.
Apesar de toda essa equipe e do apoio dos fornecedores de nuvem, o Mercado Livre ainda contrata consultorias para projetos pontuais com dados. A Data Business Intelligence, consultoria baseada na Espanha, divulgou o trabalho de dados que fez para a Mercado Ads, por exemplo, para atribuir as conversas ao canal certo, visando aumentar a satisfação dos clientes e ser mais eficiente nas despesas, o que ela fez ao desenhar processos de atribuição baseados em vários algoritmos. Conforme declarado pela consultoria, esse projeto levou a um crescimento de 49% nas transações a partir de publicidade; a um aumento de 65% na geração de receitas a partir de anúncios e a 8% de redução de custos de mídia.
Concluindo, a questão da governança dos dados e aplicar estratégias e decisões com base numa Cultura de dados, colocando sempre o Cliente no centro dessas ações, faz com que as corporações fiquem cada vez mais escaláveis, abrem também portas para que surjam oportunidades de se tornarem multiplataformas de soluções, já que possuem muitos dados comportamentais e estrutura bem definida desses processamentos.
O acesso aos dados para atingir o multimomento tão buscado nas empresas, precisa estar em todas as áreas das empresas, a todos os níveis de equipes e colaboradores. O dado quando compartilhado internamente, é uma forte arma que muitas empresas ainda relutam em entender.
Referências: 01) Magaldi, Sandro e Salibi Neto, José. Estudos de Casos: Gestão do Amanhã – o que está por trás do sucesso das empresas escaláveis. Barueri: Camelot Editora, 2021.
Colaboração: Afonso Macagnani
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